O doce refúgio de Lourenço Monte Mor em Maricá

Araci Quintanilha sentiu uma onda quente de alívio envolver seu corpo quando, enfim, parou o carro diante do muro baixo da casa de Lourenço Monte Mor, de frente para a praia. (…)  Só mesmo o carinho por Lourenço, sobrinho a quem amava como a um filho, para forçá‑la a enfrentar os sessenta quilômetros desde o Rio de Janeiro até o litoral de Maricá.  (…)

A casa onde Lourenço estava morando temporariamente pertencia ao pai dele, Aníbal Monte Mor, cunhado de Araci. Aníbal fora casado com a única irmã de Araci, Iara, que falecera num acidente de automóvel quinze anos atrás. Era uma casa de praia, usada para férias e fins de semana, mas que Aníbal não visitava havia tempos. A construção, graciosa, tinha dois andares, telhado de telhas vermelhas, janelas altas de peroba e era rodeada por um pequeno terreno arenoso, pontilhado por fileiras de casuarinas e coqueiros. A praia, extensa e elegante, de areias alvíssimas e banhada por um mar escuro e bravio, estendia‑se logo abaixo e estava quase vazia, apesar de ser verão. Isso porque uma cortina cinzenta recobria o céu e ventava tanto que as árvores chegavam a vergar, dando a impressão de que, a qualquer momento, se partiriam em duas. (…)

O VÉU na mídia

Na reta final de 2010, foram ao ar duas ótimas entrevistas com o escritor Luis Eduardo Matta, em que ele falou sobre o thriller O VÉU, publicado pela Primavera Editorial e, também de temas que lhe são caros, como a difusão da leitura entre a população brasileira e a literatura de entretenimento. Ambas acabam de ser disponibilizadas na internet.

A primeira delas, já noticiada num post anterior aqui do blog, foi a conversa com Miriam Ramos no programa Visita Vip da Rádio USP, no dia 12 de novembro, com reprise no dia 22 do mesmo mês:

Parte 1:

Parte 2:

A segunda, foi a entrevista concedida à professora Maria José Petri no programa Arteletra, da TV São Judas.  A conversa foi transmitida pela TV Universitária, no dia 12 de dezembro:

O Irã que pouco aparece na mídia ocidental (1)

Nações e sociedades são complexas e, via de regra, não cabem nos estereótipos nos quais uma boa parte da mídia e da literatura ocidentais, contaminada por preconceitos e desinformação, sempre  apostou.

Casamento judaico em sinagoga iraniana e jovens numa loja de cosméticos em Teerã

O Irã não foge à regra. Em O VÉU são mostradas algumas faces menos conhecidas do país, o que torna sua descoberta mais fascinante e a leitura do livro mais saborosa e surpreendente.  Nem todas as cenas exibidas  nas imagens deste post estão reproduzidas no livro, mas através delas já dá para se ter uma ideia de como a trama se distancia do lugar-comum presente em muitos thrillers internacionais ambientados no Oriente Médio.

Equipe feminina iraniana de canoagem e estação de esqui nas montanhas de Alborz

O VÉU na mídia

Em outubro e novembro de 2010, o escritor Luis Eduardo Matta participou de vários programas, na TV e no rádio, onde falou de sua carreira, da literatura de entretenimento, da formação de leitores e do thriller O VEU, lançado pela Primavera Editorial, e que se encontra em sua segunda tiragem.

No domingo, 24 de outubro, Matta foi o entrevistado de Cristina Pinho no programa Bate-Papo, da AllTV (acima).  No dia 26 de outubro, o escritor dividiu a mesa com a editora Barbara Cassará e o escritor Sérgio Pereira Couto, no Talk Show, da JustTV, comandado por Celia Coev (abaixo), onde já tinha sido entrevistado em 18 de maio.

No dia 28 de outubro, foi a vez de Matta, ao lado do escritor André Vianco, participar do programa Login, da TV Cultura (abaixo), direcionado ao público jovem. Após a entrevista, os dois responderam às perguntas dos telespectadores no chat do programa na internet. A íntegra da conversa está disponível em duas partes nos links a seguir: Login 1 e Login2 .


Por fim, Miriam Ramos recebeu o escritor no programa Visita Vip, da Rádio USP (abaixo), que foi ao ar no dia 12 de novembro, com reprise no dia 22. Mais uma vez, Luis Eduardo Matta falou sobre O VÉU, formação de leitores e literatura de entretenimento, dando ênfase às propostas do Manifesto Silvestre.

O crédito das fotos é de Betania Lins, da Printec Comunicação.

Galeria de Arte Le Varlet – Genebra

A Galerie Le Varlet ocupava um imóvel solene do século XVIII, de quatro andares e fachada clara de linhas barrocas, que sobressaía quase no centro da place de la Fusterie, praticamente tomada por prédios modernos. Quatro vitrines ladeavam o portal de entrada, sendo que três delas ostentavam painéis com desenhos dos rostos de alguns artistas presentes à mostra como Cézanne, Braque, Magritte, Kandinsky e Miró. Na outra, repousava solitária uma pintura a óleo do barão Von Kessel, retratando‑o altivo e sorridente, de pé com a mão direita pousada no espaldar dourado de uma cadeira alta. (…)


Araci e Bartô entraram na galeria por um resplandecente vestíbulo de piso de mármore claro e paredes revestidas nas bordas de mármore rosa, onde duas lindas moças de terninho recolhiam os convites e distribuíam os catálogos com o roteiro da exposição. O único móvel ali era um aparador francês do século XIX, acima do qual reluzia, presa à parede, uma placa de bronze comemorativa à inauguração da galeria. Do vestíbulo passava‑se diretamente ao luxuoso salão principal do térreo, um delírio para olhares sensíveis.  Colunas cilíndricas de mármore rosa erguiam‑se do piso de mármore rosso com detalhes em ônix, enfileiradas do portal do vestíbulo até a escadaria que, por sinal, era uma atração à parte: seus degraus em mármore e corrimões trabalhados em ferro forjado e banhados a ouro faziam dela uma indiscutível obra de arte. (…)

Um grande burburinho ressonava no ambiente. As fragrâncias parisienses juntavam‑se ao cheiro de fumo queimado de quem até há poucos instantes estava com um cigarro ou um charuto na mão. O tilintar do cristal dos copos de uísque e vodca, taças de vinho tinto e flûtes de champanhe somava‑se ao som difuso do falatório dos convidados, entremeado por risos e cumprimentos cordiais. (…)

Trecho de O VÉU em que os protagonistas Araci Quintanilha e Bartô Saraiva chegam à inauguração da mostra da Coleção Von Kessel, numa galeria em Genebra.

Os segredos de Fatima

Que terríveis mistérios guarda Fatima Hajiran?

(…) Num gesto inesperado, Fatima Hajiran soltou o cabelo, preso no coque sisudo que usava há anos, e deixou-o deslizar suavemente sobre os ombros. Era um cabelo negro, longo e brilhoso, que parecia lembrar-lhe que ela ainda era jovem e bela, apesar do envelhecimento acelerado de sua alma. (…) Uma ventania sacudia as árvores, trazendo algumas folhas perdidas para dentro da casa. Alguém a havia aberto.

Ressabiada, Fatima caminhou para fora. Olhou para o céu ainda escuro, tingido, ao longe, por finas faixas rosadas, no momento em que uma revoada de patos passava grasnando em coro. A manhã parecia prestes a irromper e o ar estava carregado de uma leveza e de um frescor alentadores. Fatima perscrutou o jardim e não localizou um único homem armado. Olhou para trás, receosa de que alguém a estivesse observando do interior da casa, mas tudo ali dentro permanecia escuro e silencioso.

Por que não havia ninguém à vista? (…)

Araci Quintanilha em Genebra

Era a entrada do verão. Genebra estava divina, emoldurada por um céu azul-turquesa límpido e arrebatador. A cidade reluzia em todo seu discreto esplendor, alegre, radiosa, trepidante e ostentando uma atmosfera de celebração pela chegada da bela estação. (…)

Quieta ao lado de Bartô no banco traseiro da Mercedes-Benz alugada, Araci contemplava as bandeiras tremulando ao sabor do vento de 18ºC dos dois lados da ponte du Mont-Blanc sobre o rio Ródano, enquanto o motorista, cortês e poliglota, guiava o carro com elegância em direção à galeria de Ulrich Wachtel, situada na movimentada Place de la Fusterie. Faltava pouco para as dezenove horas, mas ainda era dia claro. Araci mal conseguia acreditar que estava na Suíça, a salvo dos terroristas que a ameaçavam no Rio de Janeiro e, o que era mais impressionante, a poucos minutos de desvendar o esplendor da Coleção Von Kessel. (…)

Trecho da primeira cena em Genebra (Suíça), dos protagonistas Araci Quintanilha e Bartô Saraiva,  na abertura da terceira parte de  O VÉU.

Entrevista de Luis Eduardo Matta para a Fada dos Livros

O blog literário Fada dos Livros, sediado no Japão,  acaba de publicar uma entrevista com Luis Eduardo Matta. Entre os assuntos abordados, como o processo de criação literária, as dificuldades de publicar um livro no Brasil, literatura juvenil e o thriller O VÉU. Segue um trecho:

FADA DOS LIVROS – No seu livro “O Véu”, você faz uma descrição rica em detalhes sobre obras de artes e a arquitetura e decoração dos ambientes. Esse outro tipo de arte te encanta também?

LUIS EDUARDO MATTA – Praticamente todo tipo de arte me encanta. Na realidade, eu procuro recriar a realidade nas minhas histórias e, então, me esforço para aprender sobre lugares e estilos a fim de reproduzi-los adequadamente. Um escritor na minha linha não pode se dar o luxo de ter preconceitos e deve pesquisar sobre tudo. Inclusive, decoração, arte, moda, etc.

A íntegra da entrevista pode ser lida diretamente neste endereço.

E quem quiser conferir a resenha que a Fada dos Livros escreveu sobre O VÉU, é só clicar aqui.

O Irã conta os votos das eleições de 2009

Primeira página da edição online do Le Monde nas primeiras horas de 13 de junho de 2009. Foi essa página que Mitra Rahmani encontrou ao acessar o computador da universidade naquela manhã

(… ) Ao chegar à universidade, o primeiro compromisso de Mitra Rahmani era com a internet, por meio da qual acessava endereços virtuais de grandes jornais do Oriente Médio, da Europa e da América do Norte. Ela sentou‑se diante de um dos computadores conectados à rede e percorreu rapidamente alguns sites noticiosos iranianos a fim de saber notícias das eleições. A apuração parecia que entrara na reta final. Perto de 80% dos votos tinham sido contabilizados e tudo indicava que, até o fim da manhã, o país conheceria o vencedor.

Era o que também sugeria a edição eletrônica do Le Monde francês, que ela acessou em seguida. Conferiu as horas no mostrador do monitor: oito horas e trinta e quatro minutos. Dependendo da velocidade da conexão, talvez ainda tivesse tempo de visitar as páginas do L’Orient‑le Jour, de Beirute, do The New York Times, americano, e do londrino Daily Telegraph, que sempre lhe reservavam novidades interessantes, como lançamentos de novos livros e entrevistas com analistas políticos e especialistas em Oriente Médio. Ela gostava de estar informada sobre como os intelectuais estrangeiros enxergavam a situação no Irã e sentia‑se exultante quando a análise vinha acompanhada de uma conclusão favorável. (…)

Trecho onde a professora Mitra Rahmani, protagonista do núcleo iraniano de O VÉU, lê, na manhã de 13 de junho de 2009, as primeiras notícias sobre a apuração dos votos da polêmica eleição presidencial realizada no dia anterior no Irã, da qual Mahmoud Ahmadinejad sairia reeleito.

O VÉU no Montbläat

Vale a pena ler O VÉU

Maria Helena Whately (*)

A literatura brasileira não tem tradição de romance policial nem de thriller. E poucos são os escritores que se aventuram por este campo.

Luis Eduardo Matta, 34 nos, é um deles. E nos maravilha com O Véu, imperdível thriller brasileiro, que nada fica a dever aos congêneres estrangeiros. São 525 páginas do mais puro suspense, cada uma provocando expectativas no leitor. Matta dosa, com maestria, a extensão e o conteúdo dos capítulos, sempre recheados de sobressaltos.

A trama de O Véu transita pelo Brasil, Europa e Irã, situando-se entre as artes plásticas, o terrorismo e as turbulências políticas. O suspense tem início com o assassinato do jovem pintor Lourenço Monte Mor, em sua residência em Maricá (RJ). Estaria sua morte ligada a “O Véu”, tela a óleo, onde Lourenço retrata uma mulher seminua usando o véu islâmico, afronta à religião? A intriga, o terror e a morte acompanham a tela, atingindo quem dela se aproxima.

Não deixem de caminhar pelas 525 páginas de O Véu, que Luis Eduardo Matta consegue, da primeira à última, manter eletrizadas.

(*) Especial para o Montbläat Nº 346 – 18 de junho de 2010.