Em junho de 2009, enquanto as ruas de Teerã ardiam com os choques entre a polícia e os manifestantes contrários à suposta fraude ocorrida nas eleições presidenciais que deram mais um mandato ao polêmico Mahmoud Ahmadinejad, a professora universitária Mitra Rahmani, uma das protagonistas de O VÉU, se encontrou em sigilo com um ministro do governo num parque afastado da capital iraniana. Eis um trecho da cena:
“(…) O rosto de Mitra se contraiu num esgar amargo.
— O senhor fala como se a República Islâmica tivesse muitos anos de vida pela frente — ela declarou, maldosamente.
O ministro balbuciou, como se não tivesse compreendido:
— Perdão?
— O senhor mesmo mencionou a revolta da população depois das eleições. O novo governo não terá tanta legitimidade junto ao povo. E o próprio regime saiu enfraquecido. O banho de sangue que está acontecendo no país apressou a morte da República Islâmica, que pode ter começado a desmoronar neste mês de junho de 2009. Não se esqueça de que a Revolução de 1979 foi uma revolução popular. Se foi o povo que colocou os aiatolás no poder, será o povo que irá tirá-los de lá. E não há absolutamente nada que vocês possam fazer para impedir isso. (…)”
Lendo a matéria acima, publicada na revista Veja esta semana, fica a pergunta: será que Mitra Rahmani tinha razão nas suas previsões? A República Islâmica, de fato, caminha para o seu fim?
9 Comentários
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LEM, quem escreve bem, o faz em qualquer suporte – livro, blog, guardanapo de papel do boteco. Só esse post já mostra como o blog pode enriquecer o que por si só já tem o poder de prender o interesse: a trama de O VÉU.
Curiosidade sobre o processo de criação do escritor: você começou a escrever o livro a partir da crise das eleições iranianas, ou a história já existia e o fato acabou “entrando” na trama?
Um beijo, sucesso!
Adriana,
Obrigado pelo seu comentário. Você sempre delicada. Mas respondendo à sua colocação: O VÉU começou a ser escrito em 1999 e já se encontrava concluído desde 2008. Mas resolvi esperar as eleições presidenciais iranianas pois, como acompanho o cotidiano político daqueles lados, sabia que haveria problemas no pleito. Como, de fato, houve. Então o que eu fiz foi acompanhar diariamente ao longo de cerca de quinze dias de junho de 2009 tudo relacionado às eleições para adicionar as informações pertinentes à trama. Alguns capítulos tive de reescrever totalmente. O livro, portanto, ficou definitivamente pronto no dia 27 ou 29 de junho passado, quando o entreguei, enfim, à editora para ir para o prelo.
Beijo grande,
LEM
Já estou ansiosa para ler o resto. Beijos, Eugenia.
Oi, Eugenia.
Gostei muito de vê-la no lançamento em São Paulo. Você é uma amiga querida.
Bsijo grande,
Luis Eduardo
Pode virar um filme fácil, fácil!
Estamos precisando deste tipo de abordagem na literatura brasileira.
Flávia,
Quem sabe alguém não se anima a filmá-lo. Juro que não pensei nisso ainda, mas as portas estão abertas.
Obrigado pela força.
Bjs,
Luis Eduardo
Lem, pela sinopse do livro me pareceu sensacional.
Faço a mesma pergunta que Adriana fez: as eleições no Irã entraram depois que já havia uma trama? Acredito que sim, pois um livro assim, é difícil de se escrever em tão poucos meses.
Achei a ideia muito interessante e estou ansiosa para ler tudo…
bjs da regina
Regina,
Conforme eu expliquei à Adriana, O VÉU já estava escrito em junho de 2009, mês em que transcorre grande parte da ação da trama. No entanto, como acompanho a política no Oriente Médio, que consegue ser mais tumultuada do que a nossa, eu sabia que as eleições iranianas, que aconteceriam coincidentemente no mesmo mês, seriam tumultuadas, achei por bem “segurar” o livro e acompanhar o desenrolar dos acontecimentos naqueles dias a fim de reproduzir o que fosse necessário, no livro. E foi o que fiz. Precisei reescrever alguns capítulos e ele foi entregue à editora no final de junho para ser publicado.
Tomara que você goste do livro.
Bjs,
LEM
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